Stanislav Grof e a Consciência

                         
                                  

    O autor define a consciência como um fenômeno primário da existência. Não é um produto dos processos neurofisiológicos do cérebro, é mediada, mas não produzida por ele.
                   Define os estados alterados da consciência como estados holotrópicos, que são transformações específicas da consciência associadas com mudanças dramáticas nas áreas sensoriais, emocionais, no processo de pensamento, com alterações psicossomáticas intensas e formas não convencionais de comportamento. Neste estado, a consciência é modificada qualitativamente de maneira profunda, mas não sofre deterioração grosseira como nos casos de psicoses ou delírios.
                   Os estados holotrópicos podem ser induzidos e espontâneos. Podem ser induzidos por substâncias de plantas psicodélicas (mescalina, canabis, ibogaina) ou sintetizadas em laboratório (LSD, afetaminas), por abordagens psicoterapêuticas (hipnose, terapia primal, renascimento), isolamento sensorial (tanques de Lilly), biofeedback, privação de sono e sonhos e o sonho lúdico. Os estados espontâneos podem acontecer sem causa definida e muitas vezes contra a vontade, que são os estados místicos e espirituais, como sentimentos de união e identificação com outras pessoas, com a natureza, o universo e com Deus; onde podem surgir memórias de vidas passadas, comunicação com seres desencarnados, arquetípicos ou mitológicos. A consciência pode ser separada do corpo e manter a capacidade de perceber o ambiente imediato e lugares remotos. 
                   As memórias emocionalmente relevantes são armazenadas no inconsciente na forma de constelações complexas e dinâmicas e não como um mosaico de impressões isoladas. Denominou essas constelações de sistemas coex como abreviatura de sistemas de experiência condensada, que contém memórias impregnadas de emoções semelhantes vividas em situações diferentes da vida. Cada coex tem um tema básico e camadas individuais vividas em períodos diferentes.                  
                   O autor sugeriu uma cartografia da psique que contem, além do nível biográfico comum, outros dois transbiográficos: domínio perinatal referente ao trauma de nascimento e o domínio transpessoal que inclui visões, identificação com a mente universal ou o vazio.
                   No domínio perinatal são estudadas as experiências emocionais intensas provocadas pelo risco de vida na hora do nascimento, cuja memória pode formar a percepção do mundo e influenciar o comportamento cotidiano e desenvolver vários distúrbios emocionais e psicossomáticos. Quando a pessoa entra em um estado holotrópico estes conteúdos podem vir à tona e ser vivenciados plenamente. O autor identifica quatro estágios do nascimento que denominou de matrizes perinatais básicas (MPB) e que correspondem a padrões distintos caracterizados por uma combinação específica de emoções, sensações e imagens simbólicas.
                   No domínio transpessoal enfoca experiências que transcendem os limites normais da consciência e as limitações de espaço e tempo e são divididas em três categorias:
                   - Unidade dual – fusão com outra pessoa, com animais, com plantas ou com objetos, assumindo suas identidades. Pode também identificar-se com a consciência do grupo ou com toda a humanidade.
                   - Transcendência do tempo linear – regressão de memória desta vida ou de outra, chegando até a vivência de experiências de nossos antepassados e do inconsciente coletivo.
                   - Visões de seres arquetípicos ou seres desencarnados, guias espirituais, extraterrestres, habitantes de universos paralelos. Identificação com a Consciência Cósmica ou a Mente Universal conhecida por diversos nomes: Deus, o Cristo, Brahma, Buda, Alá. A experiência máxima é a identificação com o vazio supremo, o berço de toda existência.
                   A Terapia Holotrópica consiste em ativação temporária, intensificação e resolução dos sintomas. Funciona como um remédio homeopático universal que ativa os sintomas existentes e exterioriza os sintomas latentes. Ela mobiliza a inteligência interna profunda da pessoa, a qual guia o processo de cura e transformação. A pessoa tende a se identificar com seu corpo físico e o ego levando a um empobrecimento de seu modo de operar, que é muito abaixo de seu real potencial e capacidade. O objetivo principal desta terapia é ativar o inconsciente, libertar a energia presa aos sintomas emocionais e psicossomáticos, e converter esses sintomas em uma corrente de experiência. (DI BIASE, 2004, p. 126)

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